Sem querer me comparar à candidata
presidencial Marina Silva, que só se alfabetizou aos 16 anos de idade, eu só
consegui me desvencilhar do curso primário e ingressar no ginásio também aos
dezesseis. Por consequência deste atraso, sem querer entrar no detalhe de suas
causas pedagógicas, só fui concluir o curso científico (o atual ensino médio)
aos 21 anos de idade e ingressar na universidade apenas quatro anos depois, e
demorei 12 anos patinando para conseguir o canudo de engenheiro.
Definitivamente não sou um bom exemplo de aplicação escolar para os meus filhos,
a não ser o de ser persistente.
Hoje sou agnóstico e apartidário, mas
confesso que me interesso pelas questões religiosas que envolvem a reencarnação
neste planeta e acompanho o jogo político, vendo a política como um jogo de
movimentação estratégica de peças por interesses. Quando pela primeira vez a
senadora Marina silva, ex-ministra do meio ambiente do primeiro governo Lula, levou
toda a sua história de luta amazônica (junto com o Chico Mendes) para o Partido
Verde do Gabeira, eu tentei me iludir que estava se formando o tsuname da
esperada Grande Onda Verde.
Como dizia a canção do Belchior: Nossos ídolos ainda são os mesmos, mas o
novo sempre vem...Outras lideranças, como o presidente Mujica do Uruguai,
estão surgindo para formar a Grande Onda Verde em defesa da sustentabilidade do
planeta e contra a cultura de consumo desenfreado. Cada movimento político, em seu
respectivo momento histórico, contribui para o avanço das sociedades. Na década
de 1980 se construiu o partido dos trabalhadores, feito com caras novas que,
contrariando todas as previsões, chegaram ao poder. Mas, ao se misturarem com as
caras das velhas raposas políticas, ao final de três mandatos já não se
distingue mais quem é quem.
Marina Silva ressurgiu das cinzas que
a burocracia da chamada “Justiça Eleitoral” incinerou, como uma pedra no
caminho, nem que seja só para propiciar um tropeço na soberba dos petistas que,
mesmo com suas maiores lideranças presas por corrupção e desvio do dinheiro
público, sequer admitem nem fazem autocrítica. Marina ressurgiu para provocar
uma alternância no poder, pelo menos por um mandato, para fortalecer esta
alternativa política e propiciar que o país supere de vez o cenário enfadonho
da polarização entre apenas dois partidos, ampliando assim o leque de opções de
escolhas para a população. Em apenas um mandato de alternância no poder já dá
para desmantelar as conexões de corrupção estabelecidas como permanentes, conexões
que ocorrem sempre em todos os governos que se prolongam por muito tempo
dominando a máquina pública. Na próxima eleição o Lula voltará a concorrer como
o legítimo artífice da ascensão petista ao poder, quando teremos um embate de
titãs entre as duas maiores lideranças populares surgidas na redemocratização
do pais: Lula Silva x Marina Silva.
Como brilhantemente escreveu a
repórter Eliane Brum, OS SILVA SÃO
DIFERENTES: Lula e Marina, os dois fenômenos políticos mais fascinantes da
história recente, são filhos de Brasis que se desconhecem. Há uma ideia no
Brasil de que os pobres são todos iguais. Ela explica a afirmação de que Luiz
Inácio Lula da Silva e Marina Silva têm biografias parecidas – e a de que
Marina teria sido a sucessora mais natural de Lula. Para chegar ao poder num
país desigual como o Brasil, Lula e Marina fizeram uma travessia
impressionante, uma espécie de jornada de herói. Mas as semelhanças acabam aí.
Há enormes diferenças entre a trajetória de um filho de sertanejo que fez o
caminho de São Paulo e se tornou operário e depois líder sindical, na região
mais industrializada do país, e a trajetória de uma filha de seringueiro,
seringueira ela também, na floresta amazônica, que iniciou sua carreira
política em um estado como o Acre. Para alcançar a riqueza desse momento
histórico do Brasil é preciso compreender que os Silva são diferentes.
Quando candidato, o operário metalúrgico era
desconstruído por não ter escolaridade de nível superior e não dominar a
chamada língua culta do país. A evangélica candidata tem sido desconstruída por
suas limitações teológicas no campo científico da genética de células tronco e
também na área dos comportamentos sociais, tais como na questão do aborto e da
homossexualidade. Mas a defesa do meio ambiente planetário há de ser algum dia uma
distinção inconfundível de racionalização da política e da vida!... A seca
causando falta de água para a população de São Paulo não pode ser tratada como
um mero acaso dos caprichos da natureza, a falta de chuva é notoriamente uma
consequência direta do desmatamento na Amazônia. A Grande Onda Verde de
produção e consumo sustentável é o sonho possível de ser sonhado hoje por nós,
juntamente com os nossos filhos, como uma preocupação de minimizar a depredação
da qualidade de vida dos netos dos nossos netos.
Ao fim e ao cabo
desta eleição, poderemos dar continuidade às inovações no quadro político
mundial. Depois da eleição de um negro nos EUA, de indígenas que assumiram o
governo de países na América do Sul, de um operário na presidência do Brasil,
da primeira mulher presidenta, poderemos apresentar ao mundo a primeira mulher
negra no comando de um país com a maior população de negros fora da África.
Assim caminha a humanidade...
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