Todos
esperávamos ver na TV a figura lendária que era
Nelson Mandela, esperávamos vê-lo com radiante expressão de alegria na
sua aparição pública prevista no ato de abertura da Copa do Mundo de 2010 em
seu país. A Copa da África do Sul foi praticamente sem Mandela, pois somente no
encerramento a lendária figura envelhecida pelo sofrimento pôde ser observada e
devidamente ovacionada no estádio e nas telas das televisões pelo planeta
inteiro em sua última aparição em público. Ocorreu que um
dia antes da abertura do Mundial a sua bisneta de 13 anos, que saía do Show de
Abertura da Copa, morreu num acidente de carro que capotou. Devido a este
terrível acontecimento, Mandela não pode estar presente na abertura do Mundial de
2010 no seu país. Coube ao bispo Tutu da Igreja Anglicana da África da Sul,
prêmio Nobel da paz em 1984 por sua luta contra o Apartheid enquanto Mandela
estava na prisão, fazer as honras da
casa. Tutu disse em sua manifestação
emocionada no show de abertura da Copa do Mundo de Futebol 2010: A África é o
berço da humanidade, somos todos africanos!
Mas afinal, o
que foi esse tal de “apartheid”? - Dá para iniciar a história quando os
ingleses ocuparam a Cidade do Cabo a partir de 1795, após a guerra com a Holanda que colonizava a região. Com a
descoberta de diamantes e ouro em 1886,
os ingleses fundaram a União da África do Sul como domínio colonial do
Império Britânico e tornaram a língua
inglesa oficial na colônia; deixando os negros sem direitos políticos e
sociais. A segregação racial na África do Sul teve início ainda neste período
colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial de governo após
as eleições gerais de 1948 na África do Sul. Então os brancos sul-africanos
implementaram uma política de segregação racial rigorosa, rotulando o novo
sistema de governo como "apartheid" (separação de negros e brancos).
Em 1961 a União da África do Sul conquistou a independência da Inglaterra,
formando a República da África do Sul, mas o governo manteve o regime do
apartheid, e os negros continuaram
privados de sua cidadania. Uma série de revoltas populares e protestos causaram
o banimento da oposição e a prisão de líderes antiapartheid, bem como um longo
embargo comercial contra a África do Sul.
Em 1990 Mandela finalmente é solto e iniciam-se negociações para acabar
com o apartheid, o que culminou com a realização de eleições multirraciais e
democráticas em 1994, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a
liderança de Nelson Mandela.
O Madiba, já
aposentado da política em 2010, certamente torceu muito pelos “Bafana Bafana”,
pelos meninos da seleção de futebol amarela e verde da seu país; como nós torcemos
pela nossa camiseta também amarela e verde. Acredito que todos os países ficariam
contentes, devido ao espírito de compaixão que a África nos inspira, se o time
da casa levantasse o caneco. Afinal, como disse o Bispo Tutu, somos todos
oriundos da África. Conta a história contemporânea que a primeira civilização
humana a se formar foi a hindu na Índia, formada por povos que emigraram da
África do Sul e que, posteriormente, se espalharam por toda Europa e Ásia,
dando origem a todos os diferentes povos e nações. Mas o milagre não aconteceu,
nem os garotos da “Bafana Bafana” ganharam a copa, tampouco nós... La Fúria
espanhola fez espetáculo com a bola, com a elegância de um toureiro, e levantou
a taça de 2010!
Aqui,
silenciaram sumariamente as “caxirolas”, o chocalho de plástico clonado por
Carlinhos Brown do Caxixi (instrumento nativo da capoeira), numa jogada
milionária autoral do cantor que fracassou. Toda a publicidade e os símbolos da
Copa no Brasil foram um fracasso: o tal tatu-bola Fuleco foi alvo de protestos e teve que
sumir das ruas; a logomarca das mãos
formando a taça não apareceu em lugar nenhum. Só as notícias sobre falcatruas
de empreiteiros nas obras dos mega estádios “padrão-fifa” (em lugares onde não
há público o ano inteiro) divulgaram a Copa para a nossa indignação. Já
imaginaram que impacto as vuvuzelas causariam se fossem adotadas pelos
movimentos de protestos brasileiros que estão se mobilizando para fazer muito
barulho contra os gastos públicos “padrão Fifa” na Copa do Brasil em 2014?
Agora, com a
definição das chaves e grupos, começa a rolar o clima do Mundial do Brasil pra
valer. Assim como a seleção brasileira
do Dunga & Kaká não empolgou, também a do Felipão & Neymar não está empolgando ninguém, pelo
menos por enquanto. Mas, mesmo assim, seria altamente empolgante vermos jogar
aqui no estádio Beira Rio a França, a Holanda e a Argentina com o Messi. Quem não gostaria de assistir
uma só delas que seja, uma única partida de Copa do Mundo? A hora é agora, pois
nós (pós-cinquentões) não teremos outra chance igual a esta, o que só deverá se
repetir no Brasil daqui há 60 anos... Dinheiro não é o problema, o problema é o
acesso ao procedimento de compra de ingressos que é por sorteio. Pelo jeito eu vou
ficar mesmo olhando os jogos pela TV, da mesma forma como se eles estivessem
ocorrendo lá na África, apenas que ouvindo os sons das torcidas entrando pela
minha janela que fica próxima do campo. Acho que vamos mesmo é ficar vendo os turistas estrangeiros curtirem
a copa feita para eles com o nosso dinheiro e, pelo jeito, ainda vão levar o
caneco!!!...
Na realidade a Copa do Mundo no Brasil é um barril de pólvora que o povo procurou mostrar
nos #protestos de rua de junho, e que o governo ainda insiste em ignorar! Com
ou sem Black-blocs, e com os nossos líderes da esquerda na prisão por justa
causa, a Copa 2014 vai ser sem a presença da África do Sul e também sem o Mandela,
pois dias atrás morreu aos 95 anos de idade o homem que, como Gandhi, fez
história. Mas, dias atrás nasceu para a posteridade o mito Nélson Mandela que, como
Gandhi, deixou um legado de luta pela liberdade e em benefício da cultura da
não-violência e da paz com justiça social e sem ódios. Seja quem for que vença
a Copa do Mundo 2014 no Brasil, Mandela é o campeão invictus forever!
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