COPA DO MUNDO SEM MANDELA

Todos esperávamos ver na TV a figura lendária que era  Nelson Mandela, esperávamos vê-lo com radiante expressão de alegria na sua aparição pública prevista no ato de abertura da Copa do Mundo de 2010 em seu país. A Copa da África do Sul foi praticamente sem Mandela, pois somente no encerramento a lendária figura envelhecida pelo sofrimento pôde ser observada e devidamente ovacionada no estádio e nas telas das televisões pelo planeta inteiro em sua última aparição em público. Ocorreu que um dia antes da abertura do Mundial a sua bisneta de 13 anos, que saía do Show de Abertura da Copa, morreu num acidente de carro que capotou. Devido a este terrível acontecimento, Mandela não pode estar presente na abertura do Mundial de 2010 no seu país. Coube ao bispo Tutu da Igreja Anglicana da África da Sul, prêmio Nobel da paz em 1984 por sua luta contra o Apartheid enquanto Mandela estava na prisão,  fazer as honras da casa. Tutu  disse em sua manifestação emocionada no show de abertura da Copa do Mundo de Futebol 2010: A África é o berço da humanidade, somos todos africanos! 
 Em 2010 assisti ao filme Invictus - de Clint Eastwood , que traz o ator Morgan Freeman magistralmente como Mandela. O filme passa como sabido alguns flashes do fato de Mandela ter sido condenado à prisão perpétua (e escapado da pena de enforcamento), de ter ficado preso por 28 anos e de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz em 1993 com o fim do Apartheid, e ter se tornado o primeiro presidente negro da África do Sul em 1994. O filme foca a parte da trajetória de Nelson Mandela que abrange parte do seu mandato como  presidente da África do Sul (1994-1999). A Copa do Mundo de Rúgbi, pela primeira vez realizada no país, fez com que o Presidente Mandela resolvesse usar o esporte de origem britânica e popular entre os brancos para unir a população do país.  Esse é o mote deste trabalho de Clint Eastwood: O estadista Mandela que conseguiu com o Rúgbi (que é uma espécie de futebol americano) promover a união  e o orgulho nacional de um povo, de maioria negra traumatizada pela crueldade da minoria branca do seu país, ao se consagrarem Campeões do Mundo naquela modalidade esportiva.

Mas afinal, o que foi esse tal de “apartheid”? - Dá para iniciar a história quando os ingleses ocuparam a Cidade do Cabo a partir de 1795, após a guerra  com a Holanda que colonizava a região. Com a descoberta de diamantes e ouro em 1886,  os ingleses fundaram a União da África do Sul como domínio colonial do Império Britânico e  tornaram a língua inglesa oficial na colônia; deixando os negros sem direitos políticos e sociais. A segregação racial na África do Sul teve início ainda neste período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial de governo após as eleições gerais de 1948 na África do Sul. Então os brancos sul-africanos implementaram uma política de segregação racial rigorosa, rotulando o novo sistema de governo como "apartheid" (separação de negros e brancos). Em 1961 a União da África do Sul conquistou a independência da Inglaterra, formando a República da África do Sul, mas o governo manteve o regime do apartheid,  e os negros continuaram privados de sua cidadania. Uma série de revoltas populares e protestos causaram o banimento da oposição e a prisão de líderes antiapartheid, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul.  Em 1990 Mandela finalmente é solto e iniciam-se negociações para acabar com o apartheid, o que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Nelson Mandela.
O Madiba, já aposentado da política em 2010, certamente torceu muito pelos “Bafana Bafana”, pelos meninos da seleção de futebol amarela e verde da seu país; como nós torcemos pela nossa camiseta também amarela e verde. Acredito que todos os países ficariam contentes, devido ao espírito de compaixão que a África nos inspira, se o time da casa levantasse o caneco. Afinal, como disse o Bispo Tutu, somos todos oriundos da África. Conta a história contemporânea que a primeira civilização humana a se formar foi a hindu na Índia, formada por povos que emigraram da África do Sul e que, posteriormente, se espalharam por toda Europa e Ásia, dando origem a todos os diferentes povos e nações. Mas o milagre não aconteceu, nem os garotos da “Bafana Bafana” ganharam a copa, tampouco nós... La Fúria espanhola fez espetáculo com a bola, com a elegância de um toureiro, e levantou a taça de 2010!
 Para quem imaginava que na África sempre fazia o calor do deserto de Saara e das Selvas do Tarzan que vivia de tanga entre os leões nos filmes, foi uma surpresa vermos os repórteres tiritando de frio e nos anunciando que fazia temperaturas em torno de ZeroºC em Joanesburgo à noite. Quem não lembra dos zumbidos das “vuvuzelas” torcendo por todas as seis equipes de países da Mãe África (África do Sul, Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Camarões e Argélia)? Aquelas cornetas africanas, de um metro de comprimento, que levaram as emissoras de televisão européias a se queixarem na FIFA do seu  barulho nas transmissões das partidas.

Aqui, silenciaram sumariamente as “caxirolas”, o chocalho de plástico clonado por Carlinhos Brown do Caxixi (instrumento nativo da capoeira), numa jogada milionária autoral do cantor que fracassou. Toda a publicidade e os símbolos da Copa no Brasil foram um fracasso: o tal tatu-bola  Fuleco foi alvo de protestos e teve que sumir  das ruas; a logomarca das mãos formando a taça não apareceu em lugar nenhum. Só as notícias sobre falcatruas de empreiteiros nas obras dos mega estádios “padrão-fifa” (em lugares onde não há público o ano inteiro) divulgaram a Copa para a nossa indignação. Já imaginaram que impacto as vuvuzelas causariam se fossem adotadas pelos movimentos de protestos brasileiros que estão se mobilizando para fazer muito barulho contra os gastos públicos “padrão Fifa” na Copa do Brasil em 2014?
 Agora, com a definição das chaves e grupos, começa a rolar o clima do Mundial do Brasil pra valer.  Assim como a seleção brasileira do Dunga & Kaká não empolgou, também a do Felipão & Neymar não está empolgando ninguém, pelo menos por enquanto. Mas, mesmo assim, seria altamente empolgante vermos jogar aqui no estádio Beira Rio a França, a Holanda e a  Argentina com o Messi. Quem não gostaria de assistir uma só delas que seja, uma única partida de Copa do Mundo? A hora é agora, pois nós (pós-cinquentões) não teremos outra chance igual a esta, o que só deverá se repetir no Brasil daqui há 60 anos... Dinheiro não é o problema, o problema é o acesso ao procedimento de compra de ingressos que é por sorteio. Pelo jeito eu vou ficar mesmo olhando os jogos pela TV, da mesma forma como se eles estivessem ocorrendo lá na África, apenas que ouvindo os sons das torcidas entrando pela minha janela que fica próxima do campo. Acho que vamos mesmo é  ficar vendo os turistas estrangeiros curtirem a copa feita para eles com o nosso dinheiro e, pelo jeito, ainda vão levar o caneco!!!...
Na realidade a Copa do Mundo no Brasil é um  barril de pólvora que o povo procurou mostrar nos #protestos de rua de junho, e que o governo ainda insiste em ignorar! Com ou sem Black-blocs, e com os nossos líderes da esquerda na prisão por justa causa, a Copa 2014 vai ser sem a presença da África do Sul e também sem o Mandela, pois dias atrás morreu aos 95 anos de idade o homem que, como Gandhi, fez história. Mas, dias atrás nasceu para a posteridade o mito Nélson Mandela que, como Gandhi, deixou um legado de luta pela liberdade e em benefício da cultura da não-violência e da paz com justiça social e sem ódios. Seja quem for que vença a Copa do Mundo 2014 no Brasil, Mandela é o campeão invictus forever!

Nenhum comentário:

Postar um comentário