Entre os vários tópicos monitorados pelos Grupos
de Gerenciamento que já passaram pelo DMAE, há os referentes a redução de
custos na área dos recursos humanos, entre os quais, sempre constam com
destaque os gastos com insalubridade e horas-extras.
Durante os meus últimos anos na
ativa acompanhei a tortura angustiante a que foi submetido o colega Jalba, por
ser um aposentaNdo em 2009. Comentava-se na chamada “rádio-peão” (ou
voz-do-povo), que na melhor das
hipóteses, dependendo do local de trabalho,
pela nova perícia técnica os engenheiros em geral perderiam a metade da
gratificação por insalubridade. Foi uma torcida mês a mês, com o Jalba já
contando como uma parcela perdida do seu salário da aposentadoria o adicional
de insalubridade. E o cara (graças a Deus!) conseguiu sair faceiro, levando tudo a que tinha direito. A maldição
não se realizou!
Quando era eu
o aposentaNdo da vez em 2010, todos os funcionários receberam na caixa de
correio eletrônico um Comunicado da Direção Geral do DMAE, informando que
estava sendo homologado o novo laudo de insalubridade, em substituição ao
anterior, sob a alegação de que era muito antigo. O comunicado argumentava aquilo que toda a
torcida da dupla grenal já sabia de cor e salteado, o blá-blá-blá de que ao
longo desse período ocorreram distorções no recebimento do referido adicional
de insalubridade, cuja concessão se fundamentaria na “habitualidade do
exercício da atividade insalubre”. “Inocentemente” o comunicado, assinado pelo Diretor Geral,
concluía que ia ser implantado o novo laudo visando corrigir as
referidas distorções, para o bem de todos e a felicidade geral da nação
dmaeana.
Sentia-me, na
época, como o esquilo da abertura do filme Era do Gelo, tentando comer a
suculenta noz gigante que sempre lhe escapava... Como uma maldição. Foi uma expectativa
angustiante mês a mês, mas eu (graças a Deus!) também consegui sair
faceiro, levando tudo a que tinha
direito. A maldição novamente não se realizou!
A cada novo
governo municipal eleito, a nova administração ressuscita este assunto,
contrata uma nova perícia que produz um novo laudo, mas que, na hora de
implantar, recua diante da reação desesperada dos funcionários que encaram a
medida como uma perversa redução salarial...e os aposentaNdos é que ficam
arrancando os cabelos que já estão poucos e brancos.
Outra questão
sempre ressuscitada, em cada nova administração, é a dificuldade de se
estabelecer metas de redução das horas-extras no DMAE, como o que está ocorrendo
agora pela enésima vez... Diante do zum-zum-zum de que começaram a fazer um
corte geral, não posso perder a oportunidade de relatar a minha experiência
traumática com este tema amaldiçoada das horas-extras:
Quando assumi a Direção da Manutenção,
que tinha 150 funcionários em 1997, busquei implementar várias ferramentas dos
compêndios de “Gestão de Qualidade”, tais como indicadores com metas
gerenciais, check-lists de manutenção, procedimentos operacionais padronizados
(POPs) e valorização do enfoque preventivo da manutenção de equipamentos,
visando minimizar ao máximo a necessidade de intervenções corretivas.
Praticamente tudo isso que agora, quinze anos depois, está finalmente se
espraiando em todo o Departamento.
Na época alcançamos a meta de redução de horas extras em 20%, mas esta realização custou o meu pescoço: fui defenestrado do cargo de diretor da Manutenção, com pouco mais de dois anos na função (ainda bem que com o tempo suficiente para incorporar a função gratificada ao salário!). A degola foi executada por uma nova Direção Geral tampão ( que entrou substituindo o Dieter que foi assumir a Corsan com a conquista do Governo do Estado pelo Olívio Dutra), ocasião em que, pela primeira vez na história deste Departamento, o Dmae era assumido por um grupo de alienígenas, por militantes partidários vindos em bando de fora do seu quadro funcional. Politicamente a nova Direção Geral aproveitou o descontentamento funcional provocado pela política de redução em 20% das horas-extras para abrir espaço em cargos gerenciais para empregar os seus membros trazidos do DMLU. Assim, guardadas as proporções, feito os líderes da Revolução Francesa, eu fui levado à guilhotina pelo mesmo movimento sindical que eu próprio havia sido um pioneiro na sua criação dentro da DVM, do DMAE e da Prefeitura como um todo.
Aprendi na
carne, a duro custo do esfacelamento das minhas ilusões, que na política não
basta querer fazer acontecer “um mundo
melhor”, tem que se estar no lugar certo, na hora-certa e do lado certo em que
a história vai se realizar. É a fenomenologia da dialética hegeliana, pois de
boa intenção o inferno está cheio.
Agora, na esteira do terceiro
mandato de uma mesma gestão no DMAE, o continuísmo no poder se torna mais uma
vez perverso com os servidores públicos municipais, ao estabelecer metas de
redução bem mais audaciosas e radicais, implantando
a lei seca e a tolerância zero para a realização de serviços extraordinários. Ouçam
a voz da experiência: por bem menos que isso cabeças já rolaram, é a maldição
das horas-extras!...
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