Uma Categoria em Extinção

              Para completar o quadro da minha sala de trabalho, registro que somos três engenheiros homens e mais a engenheira Catarina Maria Reina Cánovas, numa sala de 21 m2. Somadas, nossas idades totalizam 235 anos, mais de dois séculos, o que perfaz uma média de 59 anos por cada barnabé! A Catarina é um caso à parte, pois de há muito já completou seu tempo de serviço (há mais de dez anos), mas não quer se aposentar. Quando todos nós, colegas de sala, éramos ainda estudantes de engenharia, ela já exercia o ofício de engenheira elétrica com pioneirismo na empresa.
           Ainda hoje ela é, com sua entrega e dedicação ao serviço, uma referência, um estímulo  e também uma cobrança permanente para que mantenhamos alto desempenho, sem nunca nos deixar cair num ritmo  de trabalho característico de “aposentandos” em final de carreira. Definitivamente a Catarina, uma workaholic, só irá se aposentar pela compulsória, isto é, aos 70 anos de idade, o que só deverá acontecer daqui a quatro anos...quando então a sala será extinta com os seus dinossauros.
A carreira do funcionalismo público municipal é ridícula, consiste em “avanços” de qüinqüênios, que acresce 3%, e nas chamadas mudanças de letras de A até D, processo que se tornou um funil por onde poucos passam de uma letra pra outra, para se obter um acréscimo de mais 5% no básico do salário. Como todos os membros da sala já atingiram o topo da carreira, a letra D, somos tidos como os Dinossauros.

Estamos sentindo realmente a sensação de sermos uma espécie que está sendo caçada tendo em vista a sua extinção deliberada, com forte pressão internacional para privatização do setor público, na era FHC, e atualmente, na era Lula, através da terceirização ou das chamadas participações público-privada (PPPs).
Faz muito tempo que já não se realizam concursos públicos, e dado o envelhecimento do quadro funcional, que já faz fila e se aglomera na passagem pela roleta da porta de saída para aposentadoria, a tendência é que cada área de atividade do funcionalismo público vá entrando em extinção e sendo terceirizada, na medida que vá vagando seus cargos. Tudo gradativamente, sem alardes, uma extinção de uma categoria de forma indolor, como em câmeras de gás, e difundida em comícios da esquerda e da direita como uma cura homeopática das mazelas da nação.


(Remake de texto escrito em dezembro/2009)


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