A CLASSE MÉDIA VAI À EUROPA

Classe média,eu? A idéia surpreende moradores tanto da Rocinha no Rio quanto do Morro São José e Vila Restinga em Porto Alegre, bem como de milhares de  favelas por este Brasil afora. Dentro de casinhas apertadas tem uma televisão de tela plana de 29 polegadas equipada com serviço de TV por assinatura e DVD. Tem freezer,  geladeira, computador e videogame. Na laje, tem um extenso varal com roupas da moda e uma lavadora de última geração, tudo comprados em parcelas a perder de vista. Este é o perfil  de uma família típica da nova classe média brasileira, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
De acordo com esse estudo, na última década dezenas de  milhões de brasileiros deslocaram-se da base para o miolo da pirâmide social. Até há pouco tempo classificados como pobres ou muito pobres, eles melhoraram de vida e começam a usufruir vários confortos típicos de classe média. Sua ascensão social revela o maior fenômeno sociológico brasileiro: pela primeira vez na História, a classe média passa a ser maioria no Brasil.
Outro dia assisti na TVE-RS a brilhante filósofa Marilene Chauí (descontando o seu “petismo” fervoroso) comentar que ela gostaria de alertar a presidenta Dilma de que os milhões de brasileiros que saíram da pobreza não se constituem uma classe média tradicional, e sim uma nova classe proletária que conquistou o mercado formal de trabalho e consumo. Portanto, em que pese o esforço da mídia em convertê-los por reprodução  ideológica em classe média típica, cabe à esquerda  mantê-los alertas de quem são seus inimigos de classe. Tecnicamente, segundo a filósofa, classe média é o segmento da sociedade que reproduz a ideologia da classe dominante, detentora dos meios de produção, sobre a força de trabalho, fazendo a cabeça  de quem bota a mão na massa. Com a ilusão de um dia vir a ser classe dominante e com o medo de ficar desempregada e decair na pobreza, a classe média não tem uma função preponderante no sistema capitalista a não ser o de manter as coisas ideologicamente como estão, cada um no seu quadrado, e o consumismo desenfreado correndo solto como forma de afirmação social...
Enquanto os membros da chamada nova classe média (com renda familiar entre R$ 1,2 mil e R$ 5,3 mil) estão começando a viajar agora, estão andando de avião e se hospedando em hotéis  pela primeira vez, naturalmente deslumbrados pela novidade, eu ludibriado quase me convenço que fui promovido socialmente para a  elite econômica (classes A e B) que tem renda familiar superior a dez salários mínimos. Mas, dura e crua, a matemática familiar mostra que continuo no mesmo patamar social, ou seja, no segmento central da classe média.
Classe alta, eu? A idéia contrabandeada pela mídia ilude muita gente da antiga classe média tradicional, consumidora voraz e entediada de todos estes produtos que tanto deslumbra a nova Classe C. O certo é que o de trás empurra o da frente e a fila anda: enquanto a nova classe média descobre o turismo nacional, a antiga classe média se encoraja e vai desbravar a Europa, lazer que era exclusividade da elite.
Elite, eu? Sei apenas que, deslumbrado, estarei realizando agora em abril o meu sonho de consumo de fazer um roteiro turístico pela Europa Ibérica: Barcelona, Madri, Lisboa, Sevilha, Algeciras, Tânger (África!), Granada e Paris. É um merecido prêmio que me dou (pacote parcelado em dez vezes e pegando dinheiro vivo emprestado para converter em euros) por ter tido persistência suficiente para conquistar a tão almejada aposentadoria.

Europa, a primeira vez a gente nunca esquece!

Um comentário:

  1. Boa viagem e que encontre por lá so sonhos tão acalentados. Como a recessão econômica anda brutal por lá, espero que se pssa trazer alguns regalos made in MCE.

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