DESCONTOS NO FINAL DO SEGUNDO TEMPO

       O reajuste de 14,13% no salário mínimo a partir de janeiro de 2012, passando para R$ 622,00 o piso salarial que alguém pode receber no país é a continuação de uma política que, em sete anos do governo Lula (2003-2010), fez o salário mínimo crescer, em média, 5,8% no ano, atingindo um incremento real acumulado de quase 60%. Beleza pura, aplausos para o governo!

         “Porém, mas porém, há um caso diferente” (como diz o samba pra Portela do Paulinho da Viola) que marca a vida de muita gente: A correção de 6,08% das aposentadorias e pensões para quem ganha acima de um salário-mínimo (repondo apenas a inflação oficial que é menor que a da realidade) gerou revolta entre os beneficiários, especialmente para os que recebiam pouco mais que o piso. Essa política de aumentos está levando todos os aposentados do INSS a ganharem somente o salário-mínimo dentro de pouquíssimo tempo.

        A perversidade do vampirismo governamental é que o teto (o maior valor pago como salário de aposentado pelo INSS) também vem sendo rebaixado, de 10 mínimos em 1991, vem caindo anualmente e já está em 6 mínimos. Desde 1991, quem se aposentou com 10 salários mínimos, que era o teto lá, hoje está ganhando apenas 6, que é o teto atual, e acumula uma perda de R$ 2.488,00 (4 mínimos!) todo o mês. Puta sacanagem, vaias para o governo!

         Analisando estes números (e dando graças a Deus que este absurdo limitador de teto salarial arbitrário “ainda não” prevaleceu para os funcionários públicos!) fiquei pensando que a vida da gente é como o campeonato nacional de futebol disputado por pontos corridos e jogado em dois turnos. No primeiro turno jogamos fora de casa, no campo do adversário, que é o estádio do patrão que paga o nosso sustento, onde precisamos ser ofensivos e eficientes para fazermos nosso pé de meia com uma boa campanha; no segundo turno jogamos em nossa própria casa, como aposentados, e aí precisamos administrar os pontos ganhos fora e atuarmos com o regulamento embaixo do braço, retrancados e sem firulas, jogando apenas pelo resultado que nos mantenha fora da zona de rebaixamento na tabela de classificação social.
       Já que não podemos mais almejar o título de campeão e sequer temos fôlego para darmos espetáculo buscando grandes novas conquistas de rendimentos financeiros, suamos a camiseta no segundo turno da vida apenas para nos mantermos na elite da primeira divisão, sem rebaixamentos salariais, de forma que possamos, “com a barriga cheia e o coração contente” deitar a cabeça no travesseiro e dormirmos em paz, até dependurarmos de vez as chuteiras e criarmos asas nos pés.

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