O mundo está em completo rebuliço
E a gente tentando escapar ileso disso
Do lado debaixo do Equador mestiço
E aproveitando pra lambuzar o beiço.
O sociólogo polonês Zigmunt Bauman, do alto de sua longa expeiriência de 86 anos de idade e de estudos, com extrema ludidez e emocionante simplicidade, define que com os “talk shows e reality shows” inauguramos a era do “Ágora” pós-modernidade. “Ágora” era a praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica. Era o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro para comprar coisas nas feiras, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania considerado um símbolo da democracia direta.
Diferentemente da Ágora da Antiguidade, da democracia dos tempos de Platão e Aristóteles, a Ágora pós-moderna se interessa em discutir os problemas pessoais e individuais. As sociedades foram individualizadas, colocou-se câmeras e microfones nos confessionários e o particular tornou-se o interesse público!
Contudo o sociólogo não perde a esperança na democracia, por falta de outra opção menos pior, mas não mais colocada como até aqui, na mesma perspectiva da antiguidade, no âmbito do Estado-nação ou local, mas sim numa perspectiva de uma “Democracia Global”, que constitua códigos para todos os países em outro tipo de ordem social da convivência humana. Considera que apenas duas questões são irreversíveis no planeta globalizado: o dilema da preservação ambiental e a interdependência entre as nações, em que pela primeira vez na história o mundo é, em certo sentido, um único país.
Com estas reflexões do eminente palestrante do Fórum Fronteiras do Pensamento, minhas conexões recentes de compreensão pessimista do aparente fracasso da União Européia e do morrer na casca do Mercosul ficaram embaralhadas e confusas. Percebi uma centelha de luz hegeliana na perspectiva apontada pelo sociólogo Bauman, no sentido de que a evolução do espírito humano tenha que dedicar mais algumas décadas, quem sabe todo o século XXI, para equacionar estas duas questões irreversíveis apontadas por ele.
Há ainda toda a defasagem de concepção democrática no pêndulo baumaneano de “maior liberdade e menor segurança social ou vice-versa” entre o mundo ocidental e o mulçumano para ser resolvida, cujas revoluções por liberdade recém começam a engatinhar na Primavera Árabe. Parece razoável que o processo evolucionista da razão humana, rumo ao absoluto de um único país dos terráqueos, passe por estes processos de unificações continentais que tenham mais afinidades culturais entre si, tipo União Européia e Mercosul. Isso até que prevaleça a racionalidade como um código universal em que todos os habitantes da Terra sejam irmãos e com igualdade de direitos de cidadania e de condições de sobrevivência...
Mas bah tchê, que viagem que a bola de cristal deste bom velhinho me fez entrar, deve ser por efeito da dopagem capitalista do espírito natalino!
Como diria Gabeira, no fundo Baummann é um "hóspede da Utopia". Ele consegue diagnosticar as doenças da sociedade de consumo, principalmente o individualismo exacerbado e o consumismo, mas guarda, no âmago, uma esperança de que um dia os velhos ideiais socialistas contagiem aos poderosos e este vejam o outro país, o outro ser humano como alguém ou entidade que busca ser feliz. É utópico, mas sem alguma esperança , a vida é muito árida.
ResponderExcluirRicardo Mainieri