Recebi
por email o seguinte comunicado do DMAE, datado de 14/07/2016: Informamos que dentro das medidas
de contenção de despesas adotadas pela Administração Municipal e seguindo as
tendências da modernização administrativa, que proporcionam o uso da tecnologia
para o acesso à informação e o zelo pelo quesito da sustentabilidade, a partir
deste mês de julho, os contracheques dos servidores estarão disponíveis somente
pelo portal RH 24HORAS. Não serão mais distribuídos na versão impressa. A medida abrange todos os servidores do
Dmae, inclusive aposentados e pensionistas do Previmpa. O fim
do contracheque na versão impressa irá gerar economia financeira.
Economia
para quem, Cara Pálida? As tendências de modernização com o uso da tecnologia
para o acesso à informação e o zelo pelo quesito da sustentabilidade tem
servido para jogar nas costas da população os custos pela impressão das nossas contas
com os códigos de barra das lojas e dos cartões de crédito, enquanto estes
estabelecimentos entulham nossas caixas de correio com impressos inúteis de
propagandas de seus produtos. Agora também os contracheques dos servidores,
este importante documento do histórico dos benefícios e descontos trabalhistas,
foi tornado supérfluo e opcional: quem quiser e puder que providencie o seu.
Eu
sempre guardei cuidadosamente os meus contracheques, desde 1975, quando
ingressei com um grupo na Prefeitura, por concurso público na Secretaria
Municipal da Fazenda – Divisão de Tributos Imobiliários, cuja nomeação nunca se
efetivou, e que recebíamos salário por “Verba de Terceiros”, como se autônomos
fôssemos e, ainda por cima, nos faziam pagar ISSQN.
Arquivados
cronologicamente, tenho também os contracheques de 1976, quando fiz outro
concurso e ingressei no Dmae no cargo de escriturário. Como verdadeiros
documentos históricos da minha carreira funcional, revendo minha coleção de
contracheques, constato que em 1979 fui promovido, também por concurso público,
para o cargo de Auxiliar de Serviços Técnicos. Depois, em 1987, fui nomeado
para o cargo de Técnico industrial numa reforma do plano de carreira, por eu
possuir o diploma de Técnico em Eletrônica do Parobé.
A
História do país também pode ser lida nos nossos desbotados contracheques. E
para aqueles Caras Pálidas que dizem que atualmente vivemos a maior crise
econômica do Brasil, fiquem impressionados com a vertiginosa montanha russa dos
valores do meu salário entre os anos de 1985 e 1995. Viajem comigo: quando
ingressei na Prefeitura na década de 1970 a moeda era o Cruzeiro (Cr$), e cheguei
no ano de 1986 ganhando Cr$ 3.347.360,00
quando entrou o Cruzado (Cz$) . A inflação era uma espiral tão louca que,
quando a moeda passou a ser o Cruzado Novo (NCz$) em 1989, eu era um marajá e
não sabia, estava recebendo Cz$ 7 milhões e, com a reforma, meu salário ficou
em NCz$ 1 mil. E a doideira continuou, pois quando ressuscitaram o Cruzeiro
(valendo 1 NCz$) como moeda oficial do país em 1990, eu ganhava cerca de 40 mil Cruzeiros e, antes da nova reforma que
instituiu o Cruzeiro Real (CR$) em 1993, eu era um multimilionário pois cheguei
a receber Cr$ 43.223.625,00. Isso mesmo: 43 milhões de cruzeiros! Veja a foto do
contracheque e acredite se quiser. Mesmo antes da reforma de 1994 que instituiu
o Real (no valor de 2.750 cruzeiros reais) eu ainda era um milionário e não
sabia, pois ganhava mais de 1 milhão de cruzeiros reais e, a partir de
então sim, caí na real de proletário, com o corte de três zeros no meu salário em
Reais. Portanto, pra quem conviveu com uma inflação de 100% ao mês, falar que
vivemos hoje a pior crise é Golpe!
Nessa
viagem nostálgica que fiz em meus velhos contracheques, verifiquei que foi em
1992 que passei a exercer a função de engenheiro nomeado em Cargo em Comissão
pelo Governo Petista, e fui nomeado definitivamente engenheiro por concurso
público no final de 1993.
Nos
meus contracheques consta que no ano de 1997 passei a exercer a função
gratificada de Diretor da Divisão de Manutenção, registro que muito me honra
por ter sido o local onde trabalhei por quase quarenta anos.
Assim,
com este último contracheque emitido em papel e referente ao mês de junho de 2016,
sou forçado a encerrar minha coleção de originais que registram, mês a mês, não só toda a
minha carreira profissional, descrevendo detalhadamente quando ganhei cada
avanço e progressão até a letra D, as horas extras que fiz e os meus
empréstimos no Montepio, como também mostra quando vendi licença prêmio e dias
de férias e a partir de quando passei a gozá-las integralmente. Os contracheques constituem um verdadeiro livro de nossas vidas, um diário de bordo desta longuíssima
viagem que fizemos cruzando maus tempos para pescarmos o nosso sustento até, finalmente, atracarmos no idealizado porto alegre dos aposentados.
Agora
a minha coleção de contracheques, que abrange 41 anos, passa a ser uma relíquia
preciosa dos tempos em que o zelo patronal era por garantir o acesso facilitado
a todos os trabalhadores às informações de sua vida funcional. Coisa que
paradoxalmente não acontece mais na pós-modernidade da era da informática, onde
tudo e até a informação é líquida, está ao alcance de alguns e escapa entre os
dedos de muitos.
Desapega, Celso. Tu guardando contra-cheques e eu doando todos os meus livros ? DESAPEGA.
ResponderExcluirContudo teu texto faz sentido para muitos servidores municipais.
Um abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu concordo plenamente com o Celso e inclusive, como Conselheira do PREVIMPA, registrei em reunião, minha preocupação com aqueles colegas que não tem acesso ao mundo digital, e são muuuiiiittooos...também guardo todos os contra-cheques, desde o dia em que assumi no DEMHAB, ou seja, 18.02.1975.
ResponderExcluirResponderExcluir