MEMÓRIAS DE VIAGEM: MADRI e TOLEDO

Fiquei muito impressionado com a aridez do território espanhol entre Barcelona e Madri: vista a 300 km/hora do trem de alta velocidade parece uma região desértica.
 Madri, por sua vez, me pareceu uma Porto Alegre bem resolvida em sua mobilidade urbana, através de metrôs e com sua vocação para bares e restaurantes com mesas em calçadas, sendo que em que cada rua tem uma trilha sonora própria feita por um músico solitário em troca de propinas.
Os músicos tocam os mais variados tipos de instrumentos, tem maluco tocando até harpa (foto) em frente ao palácio do rei da Espanha. Aliás, o rei Juan Carlos  gozava de grande prestígio até ser pego num safári matando elefantes na África, justo nos dias que estávamos na Espanha, onde pudemos acompanhar a repercussão negativa que pede a sua renúncia do cargo.
Foi em Madri que assistimos em “La Plaza de Toros de Las Ventas” a uma Corrida de Touros, que aqui chamamos de tourada. Eram oito corridas no programa, quatro toureiros para matarem dois touros cada um. Assistimos em parte, pois ao final da primeira corrida, cujo touro esteve com o toureiro pendurado em seus chifres, mas que acabou praticamente morrendo em pé, cambaleando e jorrando golfadas de sangue pela boca, se negando a cair aos pés do toureiro, até tombar duro no chão, a minha filha abandonou o estádio que em coro vibrava: Olé!
Eu resisti até a segunda corrida, cujo touro por cinco vezes cabeceou a espada pra longe da mão do toureiro, deixando-o desarmado, até que este finalmente conseguisse acertar a estocada fatal... Então me levantei e também abandonei o estádio antes que o cadáver do touro fosse arrastado para fora da arena e o povo vibrando gritasse: Olé!
Corrida de Touros é culturalmente como uma ópera dominical interpretada num estádio de futebol, na qual se recebe na entrada um encarte impresso de alta qualidade que informa a programação oficial do evento, contendo a biografia taurina dos toureiros e a procedência dos touros. O show é adrenalina direto na veia, tipo do trapezista dando o salto triplo mortal sem rede e de olhos vendados em cima da jaula do leão.
            Do espetáculo folclórico da cultura espanhola, ainda que seja considerado politicamente incorreto, a gente sai com o coração acelerado e com tremores nas mãos e, no meu caso, a pensar desta maneira: se no momento do desafio final, quando touro e toureiro se enfrentam para a estocada fatal e o touro consegue desarmar o toureiro por várias vezes, o bicho não deveria ser consagrado o vencedor da luta e conquistar o seu direito à vida e a uma boa aposentadoria?...Olé!
Mas, para apaziguar o espírito dos turistas sensíveis que ficam chocados com as touradas, Madri tem excelentes museus, com quadros e esculturas do que há de melhor na história da arte, do Renascimento ao Surrealismo e Cubismo...
E Madri tem também, pro turista relaxar da tourada, as famosas praças onde ocorrem as grandes manifestações populares contra o FMI, contra o Euro, contra o Capitalismo, contra o desemprego, contra a política, a crise e o governo!...Comparando com o Brasil, Barcelona seria o Rio de Janeiro (de praia, futebol e turismo) e Madri seria São Paulo (metrópole que acolhe todas as manifestações culturais do país).
E tem Toledo que é  uma linda típica cidade medieval suspensa no tempo, passeio que se faz em um tour de um dia de Madri. Foi em Toledo que comprei um brinco de arte damasquino, especialidade universalmente reconhecida da cidade, para presentear a Prenda Minha.
 

Dentro dos muros que cercam Toledo tem-se a impressão que a qualquer momento vão entrar as legiões de soldados romanos ou saírem cavaleiros medievais em cruzadas, com seus estandartes, como tantas vezes fizeram por sobre aquela ponte lendária...Mas não, apenas frotas de ônibus de turistas invandem a cidadela medieval!
Viajar de Madri até Lisboa num trem noturno com cabines dormitórios, como os vistos no cinema, foi uma experiência muito interessante... Mas Lisboa fica pra próxima postagem, aguarde. 

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